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Ex-comerciante realiza sonho e se forma em Direito aos 74 anos em SC: “Realizada”

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Ex-comerciante realiza sonho e se forma em Direito aos 74 anos em SC: “Realizada”
Maria Madalena se formou em Direito aos 74 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Aposentada desde 2013, Maria Madalena Braatz Chraim realizou o sonho de se formar em Direito aos 74 anos. Estudante da Unisul, em Florianópolis, a ex-comerciante obteve a conquista no início de março de 2024. O próximo passo, segundo ela, é estudar para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para se tornar uma advogada, assim como os filhos e os netos.

Criada na roça e filha de agricultores, Madalena precisou parar de estudar cedo para começar a trabalhar e ajudar na criação dos irmãos mais novos. Em seguida, se casou, teve três filhos e foi trabalhar como comerciante no Mercado Público de Florianópolis, onde ficou por 40 anos. Em 1997, ela perdeu o marido e ficou viúva.

— Quando houve o incêndio [no Mercado Público] decidi não entrar com a licitação e parei de trabalhar para viver um pouco. Fiquei viúva jovem e trabalhei muito sozinha para educar meus filhos — conta.

Aposentada e cheia de vida, Maria Madalena não queria ficar parada e resolveu voltar a estudar. Na busca por movimento, ela voltou para escola, fez todo o ensino fundamental, o ensino médio e se inscreveu para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

— Depois que fiz o ENEM o meu genro falou assim “ô, sogrinha, vamos fazer um teste seletivo para entrar na faculdade”. Eu pensei que não ia passar. Fui fazer o teste e consegui, passei. Fiquei feliz — diz.

A escolha pelo curso de Direito foi motivada pelos filhos, netos e enteado advogados. Segundo Madalena, ela queria conseguir participar das conversas que aconteciam na família e entender sobre os assuntos que eles falavam.

— Eu fui me empolgando com isso porque quando a gente estava em família eles conversavam muito sobre Direito, leis e a Constituição. Eu ficava muitas vezes sem entender o que era o assunto e isso foi minha motivação.

Sem desistir dos sonhos

Em agosto de 2019, quando começaram as aulas, Maria Madalena se viu dentro de uma sala de aula cercada por alunos “jovens”, como conta. A primeira reação foi querer desistir do curso de Direito e nunca mais voltar para o local.

— Nos primeiros dias eu olhava de um lado e para o outro e só via crianças perto de mim. Gente que tinha idade para ser meus filhos, meus netos e meus bisnetos. Eu pensava: “amanhã eu não venho mais. Que vergonha de estar aqui no meio dessa turma jovem”. Chegava em casa e falava para os meus filhos que não ia mais. Eles falavam: “ah mãe, vai sim. A mãe nunca foi de desistir nos primeiros obstáculos. Vai sim, começou agora vai terminar” — conta.

Além de se ver em uma sala de aula com pessoas na faixa etária dos 20 anos, Madalena também sentiu dificuldades em se adaptar com a tecnologia exigida pelo curso. Criada em uma época que as pesquisas eram feitas em livros, ela precisou contar com ajuda dos netos e bisnetos para se adaptar à nova realidade.

— Foi muito difícil, eu sou da era de escrever a punho, precisei  aprender escrever e a manusear um computador, precisei aprender a fazer pesquisas. Mas foi um período bom, apesar de difícil por conta da pandemia. Mas eu consegui, sempre tive ajuda de um neto, ou de uma colega da turma da faculdade — diz.

Espírito jovem 

Apesar das dificuldades enfrentadas no início do curso, Maria Madalena Braatz Chraim não desistiu do Direito. No segundo semestre da faculdade, a ex-comerciante tinha como melhores amigos os colegas de classe que antes sentia vergonha.

— Esses jovens se tornaram meus melhores amigos. Quando a gente fazia a festa da faculdade era sempre aqui em casa. Eu moro em uma casa com um terreno bem grande e a gente fez bagunça e festa em todos os períodos da faculdade, durante os cinco anos — diz Madalena.

Depois de um mês de formada, Madalena sente orgulho da sua trajetória e do exemplo que deu, não só para os filhos, como também para os colegas da faculdade. O próximo passo é estudar para a OAB e se tornar uma advogada.

— Eu sei que sou orgulho para os meus filhos, eu sei que eu fui exemplo em todo o período da faculdade. Os professores me usavam para falar com os alunos jovens que não queriam nada com nada. Isso alegra meu coração. Fico feliz com isso. Eu sou muito grata pelo que consegui. É um sonho tão sonhado, um sonho realizado. Por isso que consegui — fala. (NSC)